Toda educação é ambiental, por exclusão ou inclusão do ser humano no mundo natural. Quando falamos de exclusão, expressamos a concepção de que o Homem está “acima” dos demais animais por possuir características diferenciadas, em especial a racionalidade e, por isso, pode “ dominar” a natureza. Na inclusão, consideramos o Homem integrado à natureza, fazendo parte de um ciclo de vida e morte que nos permite viver em harmonia.

A educação atual se fundamenta na primeira afirmação: a educação é ambiental por exclusão do ser humano do mundo natural. A expressão maior dessa afirmação está cada vez mais clara na separação entre cabeça, mãos e coração no processo de aprendizagem escolar. A radicalidade dessa afirmação se expressa quando constatamos que temos sistemas escolares formando alunos analfabetos, tratamentos médicos que provocam doenças, sistemas de saneamento que poluem, armamentos nucleares que explodem no meio das pessoas que deveriam estar protegendo, métodos agrícolas que destroem a saúde do solo e água e, por fim, a saúde das comunidades humanas.

Ainda nessa direção, vivemos uma confusão dos nossos símbolos com a realidade. Os resultados são comparáveis, como alguém já disse, a comer o cardápio no lugar da refeição. “Por apreender apenas um fragmento da realidade, a abstração inevitavelmente distorce a percepção. Por negar a experiência da emoção genuína, ela distorce e diminui os potenciais humanos. Para a mente totalmente abstraída todos os lugares tornam-se “bens imóveis” ou meros recursos naturais; as suas possibilidades econômicas, ecológicas, sociais, políticas e espirituais maiores se perdem diante do utilitarismo puro e estreito. (1)

Nos tornamos expectadores do mundo. Muitas vezes, vivemos uma realidade reportada pelas mídias digitais, nos privando, em especial as crianças, da vivência, da experiência que permite preencher nosso mundo interno de sensações, percepções, sentimentos, conhecimentos. Toda vivência nos permite construir recursos internos que podemos ou não acessar diante dos desafios que a vida nos apresenta. Quando nosso mundo interno fica “empobrecido” sem termos oportunidades de vivenciar as experiências, ficamos “reféns” das situações ou de outros, não nos permitindo encontrar saídas criativas para os conflitos. Caímos na repetição, na alienação.

Essa dissociação que vimos realizando há muito na história humana está chegando no ápice da destruição. Compreendemos hoje, que não será a destruição da natureza, mas a possibilidade de destruição da existência da vida humana na Terra.

Mas há um outro caminho possível. A educação é ambiental por inclusão do ser humano no mundo natural; compreender que fazemos parte da natureza, que não temos como dominar, subjugar, mas estarmos juntos ao mundo natural nos reconectando com o elo perdido. Sabemos que os conhecimentos mais significativos e arraigados em nossa vida é fruto da combinação da experiência e do fazer com a prática da reflexão e da articulação entre eles.

Richard Louv(2) afirma:“A natureza inspira a criatividade da criança, demandando a percepção e o amplo uso dos sentidos. Dada a oportunidade, a criança leva a confusão do mundo para a natureza, lava tudo no riacho e vira do avesso para ver o que há do outro lado. A natureza também pode assustar, e até mesmo esse medo tem um propósito. Na natureza a criança encontra liberdade, fantasia e privacidade – um lugar distante do mundo adulto, uma paz à parte.

E para buscarmos uma nova compreensão do papel da educação na reconexão com o mundo natural, deixamos uma contundente reflexão de Dee Hock (3), para contribuir com nossa tomada de consciência desse tempo que estamos vivendo: “A vida é incerteza, surpresa, ódio, perplexidade, especulação, amor, alegria, pena, dor, mistério, beleza e milhares de outras coisas que nem conseguimos imaginar. Vida não é controlar. Não é conseguir. Não é ter. Não é saber. Não é nem mesmo ser. Vida é um eterno e perpétuo vir-a-ser, ou não é nada. O vir-a-ser não é algo a ser conhecido ou controlado. É uma odisseia magnífica e misteriosa a ser experimentada.

No fundo, o desejo de comandar e controlar é uma compulsão destrutiva e mortal de roubar de si mesmo e dos outros as alegrias da vida. É de se admirar que uma sociedade que venera a primazia da medida, da previsão e do controle leve à destruição do ambiente, à má distribuição da riqueza e poder, à destruição em massa das espécies, ao Holocausto, à bomba de hidrogênio e a inúmeros outros horrores? Como poderia ser diferente se há séculos nos condicionamos com noções ainda mais poderosas de soluções fabricadas, de dominação, de comportamento forçado e de interesse próprio isolável? Tirania é tirania, por mais trivial, mais bem-racionalizada, mais inconsciente ou mais bem-intencionada que seja. É aquilo que nos acostumamos há séculos, de milhares de maneiras sutis, dia após dia, mês após mês, ano após ano. Não precisava ser assim, nunca. Não precisa ser assim agora. Não pode ser assim para sempre”.


(1) Do livro: Alfabetização Ecológica, artigo de David W. Orr
(2) Do livro: A última criança na natureza, de Richard Louv
(3) Do livro: O nascimento da Era Caórdica, de Dee Hock