(3) Traços iniciais: Ricas experiências entre o Instituto Ecos na Educação e as Escolas Públicas de Vargem Bonita-MG
“ A cisão cartesiana entre a natureza e a cultura é a base da educação moderna e constitui-se em um dos principais entraves para a promoção de uma educação ambiental realmente profícua.” Mauro Grün
O Instituto Ecos na Educação começou uma frente de atuação, no final de 2017, junto à Secretaria Municipal de Vargem Bonita-MG e as escolas públicas da cidade, visando contribuir com a qualificação de seus professores frente aos desafios de um mundo em mudanças.
Durante o ano de 2018 e o primeiro semestre de 2019, realizamos encontros com os professores buscando sensibilizá-los para o lugar onde vivem. A beleza e a grandiosidade com que a natureza se expressa nesse lugar é um convite à preservação e a contemplação. O Parque Nacional da Serra da Canastra onde se encontra a nascente histórica do Rio São Francisco já nos traz um chamado para a nossa “nascente”, a nossa essência que quer se manifestar em nossa história.
Assim pensamos porque partimos de uma compreensão de que toda educação é ambiental, por exclusão ou inclusão do ser humano no mundo natural. Quando falamos de exclusão, expressamos a concepção de que o Homem está “acima” dos animais por possuir características diferenciadas, em especial a racionalidade e, por isso, pode “dominar” a natureza. Na inclusão, consideramos o Homem integrado à natureza, fazendo parte de um ciclo de vida e morte que nos permite viver em harmonia e com respeito ao mistério da vida. E, a educação atual se fundamenta na primeira afirmação: a educação é ambiental por exclusão do ser humano do mundo natural. A expressão maior dessa afirmação está cada vez mais clara na separação, na dissociação entre cabeça, mãos e coração no processo de aprendizagem escolar.
Mas há um outro caminho possível. A educação é ambiental por inclusão do ser humano no mundo natural; ao compreender que fazemos parte da natureza, que não temos como dominar, subjugar, mas estarmos junto ao mundo natural, reconectando-nos com o elo perdido. Pois sabemos que os conhecimentos mais significativos e arraigados em nossa vida é fruto da combinação da experiência e do fazer com a prática da reflexão e da articulação entre eles, permitindo criar ações significativas para todos os envolvidos no processo educacional.
Assim, iniciamos nosso trabalho com os professores buscando a sensibilização para o meio ambiente da região através da Carta da Terra e os Princípios do Instituto Ecos na Educação. A partir dessas reflexões, algumas ações foram realizadas na comunidade:
• Incentivo e trabalho junto às pessoas responsáveis pela biblioteca – com o desenvolvimento de atividades para reforma do espaço e reorganização do acervo de livros da mesma, e também uma relação mais presente nas salas de aula; sensibilização sobre o papel da leitura de livros de literatura em sala de aula para se construir um aluno leitor, contribuindo para uma ampliação do universo cultural das crianças.
• Ações específicas para os anos iniciais do ensino fundamental com a criação do Projeto Canastra do Conhecimento, e CEMEI: desemparedamento da infância e de contato com a natureza, bem como a importância do brincar para o processo de aprendizagem das crianças.
• Orientações de estudos para os profissionais de todos os níveis de ensino.
• Montagem inicial da Brinquedoteca na Escola Enelise Helena Cunha.
• Sensibilização para o ensino da Matemática quanto a formas diferentes de se estudar seus conteúdos, desenvolvendo o raciocínio matemático e não apenas a memorização das quatro operações através de tabuadas.
• Orientação de estudos e fichamento de textos para a qualificação dos profissionais de todos os níveis como um recurso para aprender a aprender, permitindo um desenvolvimento da capacidade leitora e por consequência da escrita também.
A partir de agosto/2019 encerramos nossas atividades junto às escolas por acreditarmos em caminhos diferentes do que seja uma formação em serviço, que para nós passa pela qualificação dos profissionais da educação quanto ao papel social, cultural e cidadão dos envolvidos na práxis educativa e, também, por não concordarmos com uma visão “médica” e de resultados pela meritocracia da problemática educacional.
Sendo assim, agradecemos a todos os profissionais que contribuíram com o Instituto Ecos na Educação e com o projeto Canastra do Conhecimento: – Celinha Nascimento, Iara Diniz, Miriam Santos, Regina Célia de Carvalho, Walkiria Rigolon, Maria José dos Santos (Masé), Shirley Paes Leme.
Outra percepção que tivemos foi de que a origem do Instituto Ecos na Educação foi na instituição-escola, e chegamos em nossa prática inicial, também, nas escolas. Mas, para que nós, realmente consigamos construir um espaço de transformação da realidade, temos que partir da natureza, temos que partir do lugar: a natureza é a nossa sala de aulas, e é por onde nós poderemos chegar novamente até a escola. É um movimento a partir de toda essa reflexão das vivências que tivemos nas relações com os professores, profissionais da educação e com as direções das Escolas.
Compreender a natureza enquanto um sistema vivo, recuperar, reconectar, buscar a integração da cultura humana e a natureza que foi rompida há muito tempo. Incluirmo-nos na natureza, enquanto seres pertencentes à natureza e não acima dela, como fizemos até agora por achar que o papel do homem, como o ser no topo da cadeia produtiva, seria dominá-la. Ao nos incluir na natureza nos humanizamos, nos reconhecemos finitos e pertencentes ao grande mistério da vida. Precisamos recuperar essa visão na escola, enquanto espaço-tempo de compreensão e construção da vida. Esse é o nosso maior desafio!