“A educação não pode se ocupar só do intelecto, mas deve formar pessoas mais solidárias.”
Claúdio Naranjo

Saber

É o motivo para o qual vivemos
É o motivo para o qual suportamos professores todos os dias na escola
É o motivo de descobrir POR QUE saber
É o motivo para o qual pensamos
É o motivo, enfim, para sabermos a simples pergunta:
Para que saber?
Pra que saber?

Se não soubéssemos nada
Não sofreríamos
Não choraríamos
Não existiríamos

Se não soubéssemos nada
Nada seríamos.
Marina L. Ribeiro (13 anos)

No texto anterior, Saber e Sabor – Aprender é como comer, dissemos que o Organismo e Corpo são processos diferentes e interdependentes.Organismo é a estrutura biológica vivente, enquanto o Corpo é a estrutura biológica preenchida de inteligência, pensamentos, sentimentos, emoções, percepções, metáforas, gestos, sonhos… Assim, podemos dizer que o ser humano tem um Organismo e um Corpo, e que um animal tem um Organismo mas não tem um Corpo, falta-lhe a consciência de si mesmo, privilégio dos humanos. Podemos dizer que o substituto do instinto dos animais, nos seres humanos, é a nossa capacidade de aprender. Essa capacidade de aprender é o elemento fundante do humano.
Agora, vamos enriquecer um pouco mais nossa compreensão a partir da reflexão – Saber com sabor: conhecimento com emoção! emoção com conhecimento!
A partir das afirmações do texto anterior, da existência no humano de um organismo e um corpo, vemos que no espaço da escola temos a presença da “cabeça” da criança, do adolescente e do professor. O corpo, esse grande ausente da escola, pode ser lembrado nas aulas de Educação física ou quando o corpo não para quieto, “explicado” pelas Síndromes de Déficit de atenção”, “Síndrome do pensamento opositor” e demais “adoecimentos” presentes na escola. Essa forma de compreender as relações na escola, fruto de um modelo médico, onde há uma doença a ser curada, exime os atores da escola de pensar, refletir e buscar novas formas de aprender e de questionar afirmações como, a de que quando uma criança tem “algum problema” se justifica o “fracasso” da mesma na escola. Não queremos dizer que não há problemas e que algumas poucas crianças têm, na maioria das vezes, desenvolvido ou gerado uma Síndrome fruto de um desenvolvimento genético, como por exemplo, a Síndrome de Down. Hoje, já se compreende, que mesmo essas pessoas com alguma deficiência têm capacidade de aprender, diferente dos demais, mas possuem essa capacidade.
Nesse sentido, quando vemos a afirmação de que … “a guerra resultante entre cabeça, mãos e coração e entre os mundos das teorias e da experiência prática, eram travadas, embora sem muita consciência, em todas as salas de aulas, …, e na mente e na vida de todos os estudantes. Os problemas que costumamos diagnosticar como mau comportamento ou baixa motivação entre educandos e educadores mais provavelmente refletem a falta de sintonia entre educação e algo interno tentando se libertar.(1) sVamos direto ao ponto dessas dissociações entre mente e corpo, razão e emoção, inteligência e desejo, organismo e corpo, objetividade e subjetividade, ciência e arte, ciência e filosofia… que nos adoecem na mente, no corpo, e nas dificuldades do aprender.
Temos duas reflexões de Alexander Lowen, que descrevemos a seguir, que cai como uma luva no que queremos discorrer nesse texto. A primeira expressa que diante da sociedade do espetáculo que vivemos “Ao enfatizar demasiadamente o papel da imagem, ficamos cegos à realidade da vida do corpo e dos seus sentimentos. É o corpo que se funde em amor, que se arrepia de medo, que treme de raiva, que procura calor e contato. À parte do corpo, estas palavras não passam de imagens poéticas. Experienciadas no corpo, elas ganham a realidade que dá sentido à existência. Baseada na realidade do sentimento corporal, a identidade possui substância e estrutura. Abstraída dessa realidade, a identidade torna-se somente artefato social, um esqueleto sem carne”. (2)
E a outra reflexão nos remete diretamente para a escola: “Pensar é geralmente considerado como o oposto do sentir. A pessoa reflexiva é contrastada com a impulsiva, a que age segundo seus sentimentos sem pensar. ‘Pare de pensar’ é a ordem para a razão. Parecerá contradição afirmar que o que se sente encontra-se intimamente ligado ao que se pensa. Entretanto, ao examinarmos o processo de nossos pensamentos surpreender-nos-emos ao constatar como eles se reportam aos sentimentos, em quanta base emocional se alicerçam. Nossos pensamentos comuns, em sua maioria, são subjetivos: pensamos sobre nós mesmos, como nos sentimos, o que vamos fazer, como faremos e assim por diante. Faz-se mister um esforço da vontade para nos tornarmos objetivos em nossos processos de pensamento”. (3)
É interessante notar que a subjetividade entrou na educação como um obstáculo, pois envolve a sensibilidade e a emoção como fontes de erros para a razão. Ao dissociarmos razão e emoção estereotipamos, uniformizamos comportamentos, perdemos a originalidade, a singularidade e a espontaneidade próprias do desenvolvimento infantil, pois essas capacidades humanas são o alimento da criatividade, e vão se atrofiando no espaço da escola. É preciso inverter essa lógica; não é possível aprender coisa alguma sem a inclusão da subjetividade. Antes de ser um obstáculo, faz-se imprescindível a sua presença para aprender. Se não compreendermos e não buscarmos essa integração estaremos condenados ao espaço da cópia e da repetição, características presentes no espaço de ensinar, ainda no século XXI. Continuaremos a ter um saber ‘sem gosto e sem sentido’, nos condenando a uma vida sem alegria e repetitiva. Só é possível realmente aprender e saber quando integramos razão e emoção, cultura e natureza, inteligência e sensibilidade, percepção e sentimentos, caminhos possíveis trilhados pela criatividade.

A-cre-ditar

Crer no dito da impotência
É estar perto da morte
É ter o coração roubado
Por homens e mulheres que matam
Por homens e mulheres que se matam.

Crer no não-dito
É se a-sujeitar na privação
É se permitir a invasão.

Acreditar na potência
É pensarsentir sem medo
É ser prenhe do outro
É ser sujeito de sua ação.

Orr, David W. Alfabetização Ecológica, pág 127
(3) Lowen, Alexander. O Corpo traído, pág 19 e 87.