Quem precisa de Ritalina?
Os pais educam por identificação, por amor, por seu exemplo. O professor não tem essa identidade, mas traz outras referências. Os valores para a vida não pode ser só familiares. Eles precisam ser sociais. Nenhuma relação é mais educadora do que as relações que acontecem na escola. Esse espaço é educador em si mesmo. Fernando Savater
Vamos falar da Síndrome do Déficit de Atenção com Hiperatividade ou sem Hiperatividade. E aí fomos buscar o que caracteriza essa Síndrome:
“Confira 10 sinais de que você tem déficit de atenção:
- Dificuldade de manter as coisas organizadas. …
- Dificuldade em gerir os sentimento. …
- Hiperatividade ou inquietação. …
- Dificuldades de lidar com horários. …
- Dificuldade de concentração. …
- Esquecimentos constantes. …
- Manter o hiper foco. …
- Estresse e pessimismo…
A Ritalina é usada como estimulante, para aumentar a concentração, velocidade mental e foco. Também para diminuir a agitação e a sonolência. No Brasil, Ritalina é o remédio mais conhecido para o TDAH. Com a finalidade de tratar tanto Déficit de Atenção como para a Hiperatividade.
Quais são os efeitos colaterais da Ritalina?
Os efeitos mais observados nos pacientes em uso de Ritalina são: falta de apetite, dor de cabeça, aperto no peito, taquicardias, insônia, aumento da pressão arterial, tremores, sudorese excessiva, boca seca, surgimento de crises de ansiedade, pânico ou surtos psicóticos.
O que pode causar a ritalina?
Especialista afirma que uso indiscriminado de Ritalina pode causar um “genocídio do futuro” Para uns, ela é uma droga perversa. … Trata-se da ritalina, o metilfenidato, da família das anfetaminas, prescrita para adultos e crianças portadores de transtorno de deficit de atenção e hiperatividade (TDAH).” ( fonte Google)
Pela “descrição dos 10 sinais de que você tem déficit de atenção” temos uma epidemia mundial… Não é possível, identificar com tamanha generalidade uma doença! Então, quem realmente precisa tomar Ritalina? Para buscarmos possíveis respostas a essa pergunta temos que ter alguma compreensão teórica de quais mudanças vem ocorrendo com o ser humano nesse mundo em mudanças.
Porque concordamos com Edgar Morin quando ele diz da responsabilidade social que temos com nossas escolhas, colocamos essa reflexão inicial: “O pensamento mutilado não é inofensivo: desemboca mais cedo ou mais tarde em ações cegas que ignoram que aquilo que elas ignoram age e retroage sobre a realidade social e conduz a ações mutilantes que despedaçam, cortam e suprimem em vivo o tecido social e o sofrimento humano.” (1)
Ainda, para buscar aprofundar essa compreensão: “Pensar e atender ancoram-se na história singular e coletiva. Pensar e atender correlacionam-se. Uma atividade requer a outra. É impossível atender deixando de lado significar. A atividade atencional supõe certa seleção. Seleção que está condicionada por nossa história singular e pelas circunstâncias.
Assim como não escutamos tudo que é audível, nem vemos tudo que é visível, não podemos prestar atenção a tudo que nos rodeia. Aquilo que chama nossa atenção surge de um chamado, que mesmo emergindo do espaço exterior, nos chama pois, poderíamos dizer, “ conhece nosso nome”. Dizemos “chama-me a atenção” – sábia expressão que demarca dois aspectos simultâneos: o objeto que nos “chama” e a implicação pessoal na formulação reflexiva me chama ( sou chamado pelo objeto, e por sua vez, respondo ao chamado)”. (2)
O dizer acima, de Alicia Fernández, localiza o ato de prestar atenção na subjetividade humana vinculada ao ato de pensar, requer estruturas mentais em desenvolvimento e, ao rotularmos alguém como desatento pode-se gerar mais obstáculos adicionais do que soluções como, por exemplo, deixa a quem o recebe como o único responsável pelo problema e, exime o ambiente educacional e familiar de se perguntar sobre sua participação.
Continuando a reflexão de Alicia Fernández, ela diz: “O ser humano, ao nascer, está provido de capacidades para… quer dizer, possibilidades abertas sem um conteúdo determinado nem fixado previamente. Se essas condições são consideradas como já dadas, supõe-se o ambiente como facilitador ou perturbador das mesmas. Ao contrário, se pensamos – como estou propondo – que em certas épocas da sociedade realizam-se novas contribuições subjetivas, podemos advertir que as mesmas não só modificam como também produzem novas potencialidades. Portanto, é necessário perguntar-se: como afetam a nossa atividade pensante e atencional as particularidades da superfície social atual?” (3)
Se lidamos com essas mudanças, como Síndromes, “doenças” que precisam ser tratadas com medicamentos e terapias cognitivo-comportamentais, temos a compreensão de que algo está errado e precisa ser concertado, voltar ao padrão anterior, o correto. Assim, essa visão não consegue compreender as potencialidades e dificuldades das mudanças, criando sintomas específicos para determinadas crianças que já não se adaptam aos modelos pedagógicos antigos, como a piada apresentada no artigo (3). Repetição, memorização, cópias, repetição, memorização, cópias… fez sentido para uma determinada época histórica, no começo da instituição escola. Não é mais possível, lidar com as crianças, com a antiga visão de “tábula rasa” em que vamos depositando informações e as crianças vão adquirindo conhecimentos.
A relação, hoje, deve ser de trocas, as crianças devem e podem interagir com as informações e a partir dessa relação construir seus conhecimentos, e saber das potencialidades de ações a serem realizadas no mundo. Numa relação horizontalizada do professor/aluno permite-se abrir o espaço da criatividade, da espontaneidade e de um aprendizado potente diante das mudanças que vivemos. Enquanto uma relação verticalizava, autoritária, onde eu professor “sei” e o aluno “não sabe”, tira a potência das crianças e dos jovens, encaminha-se para a subserviência e a passividade. E é essa relação que já não mais se sustenta, e que algumas crianças “adoecem”, e são consideradas problemas.
Esse modelo traz, também, consequências para os professores. Como diz Alicia Fernández: “Quando o principal objetivo buscado situa -se no rendimento e na rapidez em alcançar um produto terminado, pouco se reconhece a importância do pensar, da reflexão, do brincar e, menos ainda, a alegria. Então o sentimento de impotência atravessa o docente, despojando-o de sua autoria e do reconhecimento de seu poder de ensinar. (4)
Acreditamos que nossas crianças e adolescentes possuem o VIGOR e os professores, no trabalho de construção do processo de ensino/aprendizagem precisam do RIGOR do conhecimento e da autoridade (não do autoritarismo que leva a arbitrariedade) do adulto, porque pensamos que o rigor é a rede que o trapezista precisa para fazer as piruetas no ar. Piruetas da criatividade, da espontaneidade, da alegria de aprender. E, os professores precisam recuperar o vigor para acreditar que o rigor é uma responsabilidade do adulto.
Quem precisa de Ritalina?
(1). Nascimento, E.P. e Pena-Vega, A. (Org.). O Pensar Complexo. Edgar Morin e a Crise da Modernidade, p.97
(2). Fernández, A. A atenção aprisionada. Psicopedagogia da capacidade atencional, p.101
(3). Fernández, A. A Atenção aprisionada. Psicopedagogia da capacidade atencional, p.190
(4). Fernández, A. A Atenção aprisionada. Psicopedagogia da capacidade atencional, p.96